quinta-feira, 20 de maio de 2010

Sonetos de Outono, obra de Marleudo Costa

Pra quem não conhece Marleudo Costa ele é um estudante formando em Estilismo e Moda pela Universidade Federal do Ceará e um nome forte da moda cearense. Quando se pensa em lingerie, lá está ele. Sua última coleção entitulada Sonetos de Outono, trás toda delicadeza e ao mesmo tempo imponência de uma lingerie conceito fantástica.

Vamos conferir!


“Que chegue, trazendo brisas frias
Derrubando folhas, tristezas e solidão
Que leve, todo exagero
Que reste, luz fraca, brisas e lembranças
Suave, ameno e confortador
Triste, mas aceitável
Nada de paixões ardentes
Nada de dores profundas
Só a suavidade de ambas, calmaria sem explosão
Suave torpor que confunde mas não se perde
Leveza de todo o sentir
Nem tão calmo, nem tão breve
Outono
Estação e Sentimentos”
Autor desconhecido

A partir deste poema, de autor desconhecido, surge a inspiração para a nova coleção do estilista Marleudo Costa, que mergulha em um mundo lúdico, permeado de subjetividade, e explora um novo olhar de lingerie-conceito.
A coleção Sonetos de Outono faz uma viagem ao imaginário de um ser humano e seus sentimentos, e retrata os mesmos em suas mais diversas formas de expressão, além de interpretar a beleza da complexidade dos contrastes entre os mesmos. Nela, assim como acontece com todo seu humano, há espaço para a análise da tristeza, da melancolia e da saudade de um amor perdido, por exemplo.



Na cartela de cores, predominância do preto, que é balanceado com a presença do branco, representando a leveza e o renascimento de alguém que está disposto a recomeçar sua vida, a intensidade do vermelho, e a neutralidade dos tons de rosa-seco e verde-água, fazendo alusão à calmaria que se hospeda após uma tempestade de sentimentos, arruinados. Para dar a pincelada final neste universo que ora aparece confuso, ora é tão claro para quem o interpreta, estampas com motivo floral, coordenadas com rendas e microfibras lisas. Aposta-se ainda em calcinhas e soutièns feitos com estampas de grafismos, fazendo uma perfeita alusão ao poema que serviu como fonte de inspiração.

 
Na modelagem, a fluidez se confunde com a austeridade, e se reflete em camisolas soltas, dividindo espaço com a cintura marcada em corsets, espartilhos e ligas. Tudo coordenado na medida certa, como diz o poema, “Nem tão calmo, nem tão breve”. Nos tecidos, o uso de microfibra, tule, renda jacquar, chiffon e tafetá garante um equilíbrio perfeito na dualidade que se deseja retratar com o conceito da coleção.



E pra finalizar com chave de ouro uma exclusiva pro Bar Da Moda.
  • Sobre Marleudo Costa pessoa, quem é ele?
Um Peter Pan! Ele não cresceu, continua o mesmo menino que ia pra escola de bicicleta, que adorava jogar futebol no portão de casa, que sonhava em conhecer o mundo. Um cara até meio inseguro, eu diria, que muitas vezes não acredita no potencial que todos dizem que ele tem e que já apanhou um pouco da vida em várias ocasiões, mas que procura sempre acreditar que dias melhores virão, e que, cultivando as boas amizades que a vida lhe deu, pode ser muito mais feliz e viver muito melhor.
 
  • Sobre Marleudo Costa profissional, quem é ele e o que esperar?
Uma vez ouvi de uma estilista que atua há alguns anos no mercado de lingerie que eu pareço um garoto de "all star" que rouba calcinhas do varal da vizinha. No início, recebi alguns olhares tortos por ser homem e ter entrado no mercado muito novo, mas aos poucos, fui mostrando que idade e aparência nada dizem sobre uma pessoa. Considero o Marleudo Costa um profissional que vive em uma eterna busca por fazer o melhor, que é extremamente auto-crítico, perfeccionista e que nunca está satisfeito com o que tem ou o que sabe, e que se sente um verdadeiro inútil quando não tem nada pra fazer. Um profissional que gosta de ousar um pouquinho, de vez em quando, sem sair do conceito de venda, que é o que impulsiona o crescimento de uma marca.
 
  • Onde você viu o poema que deu origem à coleção Sonetos de Outono; e onde mais você buscou inspiração? Como foi o processo criativo, as buscas de tendências, etc.
Sou louco por blogs como o seu, e sempre vejo um conteúdo muito legal em muitos dos quais visito, e muitas das vezes tento tirar proveito disso para o meu trabalho. O poema que usei como inspiração para a coleção veio de um desses muitos blogs que visitei, e, bem nessa época, passei por alguns problemas de ordem pessoal que eram resumidos com clareza nele. Pensei, então: "por que não usar essa história toda para criar um tema?". Resolvi então organizar aquele turbilhão de ideias e sentimentos num painel, e foi bem fácil, pois muito daquilo se tratava do que eu estava vivendo, era eu sendo colocado no papel, em forma de um personagem. E não foi muito difícil agregar tudo isso a uma cartela de cores coerente e que estivesse em evidência segundo a tendência atual no mercado de lingerie (sim, nós também seguimos tendências!). Cores sóbrias, matéria-prima delicada, modelagem que transita entre o fluido e o marcado... tudo se encaixou perfeitamente à proposta.

  • Conta um pouco pra gente sobre o projeto de lingerie conceito, e como surgiu esse ideia.
É mais que um projeto, sabe? É uma verdadeira realização pessoal. Nós que trabalhamos com moda sabemos que atualmente uma marca vende muito mais por uma proposta que lança do que por um produto em si. Vender ideias hoje em dia é bem mais lucrativo que vender peças de roupa isoladas. Foi esse pensamento que tentei inserir dentro da marca de lingerie onde trabalho. Eu via as marcas de roupas fazendo isso e dando certo e pensava: "poxa, por que não posso fazer isso com um soutién? Tem o mesmo significado, ou até mais que isso!". No início, todos acharam uma loucura, mas eu sabia que se conseguisse, iríamos ser pioneiros! Fazer um catálogo com uma proposta diferente, uma coleção embasada em um tema, um conceito, uma tendência, uma proposta de make-up, hair e cenários concentuais, tudo isso envolvia um processo demorado e que exigia paciência de minha parte. Comecei esse trabalho na coleção anterior, que já trazia um tema bem fora do que se costumava trabalhar em lingerie, mas ainda não era o que eu queria. Queria fazer uma produção conceitual mesmo, elaborar looks que contassem uma história. Mas o resultado já começou a ser notado em termos de vendas, e aí tive carta branca para fazer o que quizesse nesse trabalho atual. É isso que as marcas cearenses, seja de lingerie ou não, precisam entender: Confiem nos profissionais que vocês contratam! Comprem as ideias loucas deles! Eles passam boa parte de suas vidas se dedicando a aprender com o intuito de levar esse conhecimento a quem os contrata pra isso.

Nenhum comentário:

Postar um comentário